Novo estudo dá explicações sobre mistério dos instantes antes da morte
Soa como uma espécie de clareza repentina de ideias, que antecede a morte da pessoa com demência. Há níveis surpreendentes de atividade no cérebro.
Os últimos momentos vivos de uma mente humana são um mistério científico e um objecto de estudo há séculos, ou milénios.
A denominada lucidez terminal é um assunto que cativa o interesse de muitos especialistas – e não só.
As experiências que passam na mente de uma pessoa antes da “morte” passaram a ser visíveis a partir do momento em que começou a ser praticada a reanimação cardiopulmonar, lembra a Scientific American.
Porque, antes, uma parada cardíaca era sinónimo de morte. Agora não é.
E, assim, através de relatos de experiência própria e de estudos científicos, foi possível verificar que há um aumento na atividade cerebral em seres humanos e em animais que passam por paradas cardíacas.
Mesmo sem estudos, quem está tentando salvar a pessoa, vê que há uma repentina clareza de ideias antes da parada cardíaca.
E isso é mais visível nas pessoas dementes. Quem tem Alzheimer, por exemplo, recupera de repente memórias e a própria identidade, antes de morrer. Costuma acontecer nos últimos dias de vida.
De repente, as faculdades cognitivas voltam, a fala volta ao normal, a ligação a outras pessoas também. A pessoa volta a ter noção de quem é e de quem está consigo.
As equipes médicas até já “adivinham” que, se esse momento chega, é porque o que se segue é a morte.
E é um momento frequente em pessoas dementes. Faz parte do processo, muitas vezes.
Um novo estudo tenta explicar o que acontece no cérebro pouco antes de a pessoa morrer.
O documento publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences mostra um aumento da atividade cerebral organizada em metade das pessoas que estavam em coma e que sofreram parada cardíaca após serem retiradas do suporte vital.
A atividade das ondas cerebrais – as que estão associadas ao estado de alerta e à recuperação da memória – aumentou nos primeiros minutos da parada cardíaca e, depois, parou.
Essa “explosão” de ondas cerebrais foi particularmente intensa numa região de cérebro, a zona quente do córtex posterior – perto da parte de trás do crânio.
Há pesquisadores que acreditam que essa região também pode ser essencial para a experiência consciente.
É que estas partes do cérebro estão relacionadas com a percepção visual, auditiva e com o movimento – e isso pode estar relacionado com as experiências fora do corpo relatadas por pessoas que se aproximam da morte e recuperam.
Nesse momento, pessoas saudáveis também costumam reconhecer uma imagem familiar.
Há um pico de atividade cerebral após a redução repentina do suprimento de oxigénio.
Isso também será consequência das tentativas do cérebro de restabelecer a homeostase, ou equilíbrio biológico, após detetar a falta de oxigénio. São esforços de última hora do cérebro para se preservar, enquanto os sistemas fisiológicos falham.
Ou seja, a reação do cérebro à perda de oxigénio é, pelo menos parcialmente, responsável pelas experiências lúcidas antes da morte.
Quando uma pessoa está a beira da morte, o cérebro fica sem oxigénio e sem nutrientes; desliga. Aí, desaparecem as habituais “travas cerebrais” e parece que a pessoa consegue acessar a partes do cérebro que, noutro contexto, não conseguiria acessar. Pensamentos, memórias, interações: tudo volta.
E não são alucinações ou delírios. São experiências lúcidas.
Com informações da Agência ZAP (PT)